O ministro que tomou no meio do currículo
Sejamos honestos. Quem nunca exagerou no currículo para conseguir um emprego? Isso faz parte do jogo. O empregador pede um conjunto de habilidades impossível por um salário irrisório. Ou seja, ele não deve estar muito interessado em contratar o candidato mais honesto e verdadeiro. Justamente por "dourar um pouco a pílula" Carlos Decotelli teve vida curta como Ministro da Educação.
Decotelli, um oficial de reserva da Marinha, foi anunciado no dia 25 de junho de 2020 como o novo ministro da Educação. Ficou somente cinco dias no cargo. Sequer tomou posse. Ainda assim, foi melhor que o seu antecessor Abraham Weintraub. Mas o que aconteceu? Por que ele saiu tão rápido de um governo no qual a atividade intelectual não é o forte.
Tudo começou quando Decotelli recebeu uma série de contestações de universidades estrangeiras e até mesmo da Fundação GetUlio Vargas (FGV) - o que inviabilizou a posse como ministro. O primeiro apontamento de inconsistências acadêmicas foi feito pela Universidade Nacional de Rosário, na Argentina. O reitor Franco Bartolacci disse que a tese de doutorado de Decotelli na instituição foi reprovada. Ou seja, ele não recebeu o título de Doutor.
Na sequência, a Universidade de Wuppertal, na Alemanha, afirmou que Decotelli não fez pós-doutorado na instituição. O que, diga-se de passagem, seria impossível, visto que ele não tinha doutorado. Só que aí a imprensa descobriu que ele poderia ter plagiado a sua dissertação de mestrado. É o incrível caso do currículo que encolheu. Uma espécie de Benjamin Button do meio acadêmico.
Apesar de tantas denúncias, o presidente Jair Bolsonaro ainda cogitava manter Decotelli no Ministério da Educação. Só que a FGV entrou em campo. O motivo? Decotelli garantiu que foi professor na instituição. Só que, em nota, a fundação informou que Carlos Alberto Decotelli não foi pesquisador ou professor da instituição, apenas atuou como colaborador.
Foi a gota d'água. Até mesmo para um governo em que a verdade é como se fosse um bote salva-vidas (ou seja, só é usada em casos de extrema necessidade) Decotelli exagerou na dose. Terminou demitido. Ele, honestamente, não precisava ter exagerado tanto. Nesse governo basta ser alfabetizado para se destacar...
P.S. - Carlos Decotelli garantiu que ia atualizar o currículo Lattes para dirimir quaisquer dúvidas. E ele fez isso. Incluiu a breve passagem no comando do Ministério em seu currículo Lattes. "Entre 25 e 30 de junho de 2020, atuou como Ministro da Educação do Brasil", escreveu ele na plataforma do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Bem, ele aumenta, mas não inventa...