Natal do Peru é só no Peru mesmo
Então é Natal. De volta com as mesmas discussões sobre uva passa. Tempo de brigar com todos os integrantes da sua família por conta de quem eles votaram nas últimas eleições. Tempo de encher a pança com salpicão e panetones de qualidade duvidosa. Enfim, Natal pode ser uma época problemática. A não ser, é claro, que você more no Peru.
Sim o Peru. Aquele país que desperta a quinta série em todos os brasileiros e nos leva a fazer uma piada de tiozão atrás da outra. Porém, nas províncias de Chumbivilcas e Antabamba, próximas a Cusco existe uma tradição natalina muito pertinente e que merece ser exportada para outros países.
O festejo chama-se Takanakuy, uma palavra do idioma nativo quíchua. Agora vem a parte interessante: a expressão pode ser traduzida como uma "troca mútua de socos". Basicamente os peruanos acreditam em "lavar a roupa suja" antes de começar um novo ano. E nada melhor do que resolver uma pendência na base do tapa.
O ápice da pancadaria acontece justamente no dia de Natal, em Santo Tomás, em Chumbivilcas. A cidade deve ter uma Arena de MCC (meu cunhado chato). Então, a cidade - de uma hora para outra - recebe centenas de lutadores de cidades vizinhas. E pau (sem trocadilho) come.
Cada luta tem como acompanhamento a huaylía. É uma forma de dança e cantoria que foi declarada patrimônio cultural do Peru em 2016. Enquanto as brigas acontecem, os versos são entoados por duas mulheres, ao som de harpa e violino. Às vezes é possível ter o acompanhamento de acordeão, bandolim e violão. Neste ponto, já está melhor do que aquele desgraçado karaokê que a sua família insiste em repetir todo ano.
A parte curiosa é que as lutas devem obrigatoriamente terminar com um abraço. Se você venceu a luta, essa é uma tarefa fácil. Se você foi derrotado, teve o braço quebrado, perdeu uns dois dentes, talvez seja um pouco mais difícil. Mas quem nasce no Peru sabe em que porra está se metendo...
Vale dizer que a tradição do Takanakuy chegou às regiões metropolitanas de Lima e Arequipa. O evento se torno bastante popular. Até mesmo entre adolescentes e até crianças, inclusive existem vários vídeos dos confrontos que ganharam nas redes sociais. Aparentemente, no Peru isso é muito gozado.
Para que se tenha uma ideia, em 2014, o Ministério da Mulher e Povoações Vulneráveis emitiu um comunicado à população no fim do ano lembrando que o Takanakuy afeta o desenvolvimento das crianças e adolescentes. O comunicado da Pasta garantia que as brigas vão "contra o princípio do interesse superior da criança".
Claro que os peruanos chamaram o ministro para resolver tudo em um Takanakuy, mas ele não apareceu. Então, lembre-se se alguém da sua família insistir com essa ideia de colocar uva passa no arroz, simplesmente diga que está na hora de ele conhecer o Peru...