Mais gente, menos vendas


A 49ª Feira do Livro mostrou que o evento caminha para um grande impasse. De nada adianta lotar a Praça da Alfândega, juntar todas as editoras, para que as pessoas saiam de mãos vazias. O fato é que a crise grassa e a fome é muito mais prioritária do que a literatura. Primeiro é preciso alimentar o corpo, depois, se sobrar algum troquinho, a gente pensa sem alimentar o espírito já dizia Feuerbach.

Portanto, é natural que as pessoas comprem menos livros. Mais ainda, as editoras foram obrigadas a reajustar os preços dos lançamentos. Nada mais justo, até por que a inflação é igual para todos. Porém, há um detalhe que os livreiros estão esquecendo e que pode levar ao fim da Feira como evento cultural.

Sim, caro zeronauta. Os famosos balaios. Como já tinha sido antecipado nas críticas anteriores sobre a feira os editores decidiram paulatinamente acabar com os balaios. Nada mais de ofertas espetaculares. Ou livros obscuros a preços simpáticos. Basicamente, ou você compra o lançamento ou volta para casa sem nada.

A idéia é vender menos e ganhar mais. O problema é que uma coisa puxa a outra. O óbvio ululante é: os balaios puxam a venda dos demais livros. É só dar tempo para o demônio do consumismo atacar e o incauto leitor acaba se empanturrando de livros que não precisa. É assim que o jogo funciona.

Mais ainda: com a Internet e seus descontos, com as megastores e o atendimento personalizado, perder tempo trombando com a patuléia na Praça da Alfândega está longe de ser um programa divertido. Em outras palavras a Feira do Livro está cavando o próprio túmulo com está mentalidade tacanha.

Detalhe importante: nesta edição cerca de 1.800.000 pessoas visitaram a Feira do Livro, um aumento em comparação aos 1.700.000 visitantes em 2002.Curiosamente, 53% são atraídos pelas ofertas de livros (leia-se balaios). Até por que no mesmo período da feira qualquer livraria de shopping oferece os mesmos 20% de desconto.

O patrono de 2003 foi o jornalista do Correio do Povo, Walter Galvani. Literariamente, ele é uma figura inexpressiva. Porém, como a idéia dos organizadores parece ter sido sacanear a RBS até que a escolha foi coerente.

Veja uma lista dos mais vendidos até o dia 15/11. O site oficial da Feira não disponibilizou o resultado final, bem como o total de livros vendidos na Feira. Tudo bem. Ninguém gosta de fazer propaganda do fracasso. Até por que vender 25% a menos do que em 2002 está longe de ser um fato a ser comemorado. Confira o tradicional comentário ZeroZen sobre os mais vendidos.

LIVROS MAIS VENDIDOS NA FEIRA ATÉ 15/11

NÃO-FICÇÃO

1) Anonymus Gourmet – Cozinha Sem Segredos, de José Antônio Pinheiro Machado (L&PM)
Sim. Só podia ser ele. O defensor das calorias, o ídolo dos donos de SPA. José Antônio Pinheiro Machado em mais um livro de receitas. Algum dia a ficha vai cair e alguém ainda vai lançar um livro de regime: "Como emagrecer sendo um Anonymus Gourmet".

2) Expresso para Índia, de Airton Ortiz (Record)
Epa! Epa! Quem? O quê? Como? Ou a família do Airton Ortiz mora toda em Porto Alegre ou a lista de apuração foi feita por escrutinadores do Estado da Flórida...

3) Boa Mesa com Sotaque Italiano, de J. A. Pinheiro Machado (L&PM)
Novamente!! Outra vez. E dê-lhe comida, comida e mais comida.

4) Ocidente x Islã, de Voltaire Schilling (L&PM)
Voltaire Schilling segue a sua série como ficar rico às custas do vestibular. Pelo menos o livro é bem-escrito.

5) Viajando com Saúde, de Fernando Lucchese (L&PM)
Fernando Lucchese é uma espécie de Pacht Adams do Rio Grande do Sul. Como parcos conhecimentos de medicina e muita cara-de-pau se vai longe. Lucchese devia se candidatar a Academia Brasileira de Letras. Afinal, se até o Scliar conseguiu...

6) Guia Compacto das Plantas Medicinais, de E. A. Maury Chantal de Rudder (Rideel)
Pois é... outra surpresa na lista dos mais vendidos. Provavelmente teve muita gente comprando para saber se maconha era mesmo planta medicinal.Se a resposta fosse negativa, pelo menos o pessoal aproveitava para fumar o livro...

7) As Vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior (Planeta)
Uma bibliografia correta sobre Chico Xavier. Se você acredita mesmo no espiritismo deve deixar para comprar o livro em outra encarnação, quando nascer milionário.

8) Quem Ama Educa, de Içami Tiba (Gente)
Içami Tiba acredita que é conversando que a gente se entende. Nada de dar uma tunda de laço ou uma sumanta de relho para educar os filhos. Bem, ele não deixa de estar certo, mas que isso tirou muito da graça de ser pai...

9) Os Pensadores – Santo Agostinho (Nova Cultural)
Santo Agostinho foi um dos maiores filósofos do ocidente. Conseguiu unir a filosofia de Aristóteles com a idéia de Deus. E o motivo de figurar na lista dos mais vendidos é que o livro estava em um balaio sendo vendido a módicos R$ 5.

10) Anonymus Gourmet – Mais Receitas, de J. A. Pinheiro Machado (L&PM)
Decidamente, com tantos livros de receitas entre os mais vendidos, a única coisa a engordar na 49ª Feira do Livro é a conta bancária do José Antônio Pinheiro Machado.

FICÇÃO

1) Perdas e Ganhos, de Lya Luft (Record)
Lya Luft vez um livro em defesa da velhice. Como ela própria é uma velha este é o verdadeiro livro de auto-ajuda...

2) Montanha Russa, de Martha Medeiros (L&PM)
Livro de crônicas de Martha Medeiros. Talvez a mais perfeita expressão da palavra tédio.

3) Cristal Polonês, de Letícia Wierzchowski (Record)
Letícia Wierzchowski ficou famosa pela minissérie A Casa das Sete Mulheres. Seu livro é de uma mediocridade constrangedora. Mas, é claro, deve ser adaptado pela Globo. Afinal, desde quando boa literatura e televisão são sinônimos?

4) O Cachorro Azul, de Luiz Coronel (Mecenas)
Bueno, se o cachorro é a azul a ZeroZen não sabe. Mas, se Luiz Coronel depender de seu talento de escritor para sobreviver então "preteou os zóio da gataiada".

5) Tipo Assim, de Kledir Ramil (ZH Publicações)
O livro que réune as melhores crônicas de Kledir Ramil. É tipo assim... uma tremenda bosta.

6) A Margem Imóvel do Rio, de Luiz Antonio de Assis Brasil (L&PM)
Luiz Antonio de Assis Brasil sabe o que escrever e como escrever. Mas segue sempre na retranca, jogando para a platéia. Talvez seja o seu talento é que esteja imóvel na margem do rio.

7) Budapeste, de Chico Buarque (Companhia das Letras)
Não há dúvida. Budapeste é o melhor livro de Chico Buarque. Porém para quem já escreveu Estorvo e Benjamim isso não quer dizer muita coisa...

8) Onze Minutos, de Paulo Coelho (Rocco)
Como esse papo de auto-ajuda não está mais rendendo, o imortal Paulo Coelho resolveu apostar em outro best-seller: o sexo. Não tem erro, Jorge Amado que o diga. Em essência, o livro é o mesmo Paulo Coelho de sempre só que mais safado, com direito, inclusive, a cena de sado-masoquismo.

9) Anacoluto – Do Princípio ao Fim, de Walter Galvani (Record)
Ei! Walter Galvani o patrono da feira conseguiu estar entre os mais vendidos. Digamos, que foi uma vitória sentimental. Anacoluto – Do Princípio ao Fim é típico livro que só serve para enfeitar estante.

10) Melancia, de Marian Keyes (Bertrand Brasil)
Marian Keyes é uma espécie de Bridget Jones com muitas doses a mais de goró. Altamennte indicado para quem gosta do gênero miséria pouca é bobagem.

Da equipe de articulistas