Feira do Livro 2002


Porto Alegre é mesmo uma cidade peculiar. Ainda não foi feita uma pesquisa sobre o assunto, mas ao que tudo indica é o município com o maior número de escritores por metro quadrado. É sério. Todo mundo parece estar a fim de colocar no papel seus sentimentos e ansiedades. Não basta para a pessoa ser cineasta. Ela precisa ser cineasta e escritor. Não basta ser advogado, médico, cozinheiro, jornalista. Não importa a ocupação. De um jeito ou de outro os porto-alegrenses têm de escrever.

O resultado é uma avalanche de textos ruins. Um calhamaço de escritos medíocres, pífios e patéticos. Como ninguém em sã consciência vai perder tempo lendo tanta porcaria, há um encalhe gigantesco nas livrarias. Sem outra alternativa e desesperados para poder pagar o aluguel os livreiros de Porto Alegre tiveram a brilhante idéia de criar a Feira do Livro.

Destarte, poderiam vender os livros excedentes com desconto e colocar o máximo possível de pseudo-escritores em balaios para se livrar desta espécie de elefante branco. Faz sentido. O problema é que a quantidade de escritores ruins cresce de maneira exponencial. É muito incompetente ao mesmo tempo. A feira dura somente duas semanas, o que não dá nem para o começo.

Para piorar as coisas estes mesmos desqualificados da escrita só conseguem vender exemplares de seus trabalhos para seus amigos que, por sua vez, também são escritores. No fundo tudo se transforma em uma troca de figurinhas. A imprensa gaúcha sempre hábil em defender o babaquismo cultural usa toda a sua nefasta influência para fazer incautos acreditarem que existe uma nova e talentosa geração de escritores.

Infelizmente, a maioria não passa de jovens imberbes que se borram de medo da literatura russa. Gente que acha que por chegar a página 15 do Cavaleiro das Trevas de Frank Miller já pode ser chamada de intelectual. Recentemente a ZeroZen foi questionada se fazia parte ou não deste movimento (leia-se FML, Livros do Mal, Cardoso Online). Bom, a resposta é simples. NÓS NÃO TEMOS NADA A VER COM ISSO!!

Por favor, para conversar com esta gente só fazendo um curso de autista. (sem ofensa aos autistas...) A ZeroZen, a única zero que vale a penar ler, gostaria de deixar claro que não tem nada contra nem a favor muito antes pelo contrário. Todavia, a Feira do Livro mostrou que de best-seller está gente não tem nada. Embora na 48ª Feira do Livro de Porto Alegre foram vendidos 510 mil exemplares de livros, 15% a mais do que no ano de 2001. Confira agora os livros mais vendidos com os comentários da equipe de articulistas da ZeroZen.

Mais vendidos

1. Comer bem, sem culpa - Fernando Lucchese e J. A Pinheiro Machado/ Ed. L&PM
O médico Fernando Lucchese achou, sem trocadilho, a receita do sucesso. Apostou na hipocondria dos gaúchos e se deu bem. J. A Pinheiro Machado, o Anonymus Gourmet, resolveu engordar a conta bancária aumentando a pança dos gaúchos. A junção destes dois talentos (sic e sci) deu no que deu: o livro mais vendido da feira.

2. Divã - Martha Medeiros / Ed. Objetiva
Epa! Epa! Mais uma prova de que a humanidade vai de mal a pior. Martha Medeiros enquanto cronista conseguiu a sua maior polêmica ao falar sobre ursinhos de pelúcia. Isto, com certeza, não é nada promissor. Em seu primeiro romance ela mostra uma incompetência narrativa invejável. Novamente fica claro que ela é uma espécie de receituário do óbvio. Pelo menos, verdade seja dita, seu livro convida a reflexão. O leitor certamente se pergunta: por que diabos eu comprei esta bosta?

3. Anonymus Gourmet: mais receitas - J. A Pinheiro Machado/Ed. L&PM
De novo o Anonymus Gourmet. De novo mais receitas. Pelo que o J. A Pinheiro Machado vendeu na feira certamente terá uma ceia de natal muito mais farta do que os seus leitores.

4. O livro negro do Radicci - Iotti/L& PM
E o Radicci conseguiu. O gringo Caxias movido a vinho e polenta faturou o quarto lugar. As histórias selecionadas mantêm o nível irregular das tirinhas diárias. Mesmo assim, o Iotti já percebeu que viver só com o salário da Zero Hora não dá pé.

5. Anonymus Gourmet: novas receitas - J. A Pinheiro Machado/Ed. L&PM
Sim, acredite se quiser! The winner is... Pinheiro Machado! Outra vez ele conseguiu estar entre os mais vendidos. Ou os gaúchos não fazem mais nada da vida a não ser cozinhar ou este cara tem uma família muito grande...

6. Desembarcando o diabetes - Fernando Lucchese/Ed. L&PM
A hipocondria ataca novamente... Tudo o que você queria saber sobre o diabetes, mas não teve coragem nem saco de perguntar. E depois dizem que a Feira do Livro é a festa da literatura.

7. Agenda Bruxa Pascoalina 2002 - Paulina Monckenberg/Ed. Vergara
Hehehehe! E tem gente que ainda não acredita em bruxas. Somente uma magia negra de alto calibre pode ser capaz de transformar algo como a Agenda Bruxa Pascoalina 2002 em um dos livros (sic e sci) mais vendidos da feira. Fala sério. É de se investigar se a autora não vendeu a alma ao diabo...

8. Lágrimas na Chuva - Sérgio Faraco - Ed. L&PM
Honestamente, se algum dia fosse realizado um campeonato de escritores gaúchos, Sérgio Faraco certamente estaria na segunda divisão. Provavelmente a venda excessiva do livro ocorreu por que devido ao título as pessoas pensaram se tratar de uma biografia do Kid Abelha.

9. O Cavalo Verde - Causos gaúchos e relatos interioranos - Luiz Coronel/Ed. Mecenas
Bagualismo por uma questão de classe. Este seria o livro que o cantor nativista Mano Lima compraria. Isto se ele soubesse ler...

10. O Nazismo - Voltaire Schilling/Editora da Universidade
Não deixa de ser uma surpresa. O professor e historiador Voltaire Schilling nitidamente sabe do que está falando. Claro que a vendagem do livro deve-se mais a proximidade do vestibular do que propriamente as qualidades literárias da obra.

Gastando pólvora em chimango...

A ZeroZen gostaria de notar a ausência de Máquina de Pinball, Editora Conrad, de Clarah Averbuck entre os mais vendidos da Feira do Livro 2002. Vale lembrar que no extinto E Aí?, fracassado guia cultural (sic e sci) para a juventude gaúcha, o jornalista (mais sic e mais sci) Eduardo Nasi, representante-mor do babaquismo cultural do RS, em uma antológica resenha alertou para as qualidades literárias da autora.

Já no início da crítica ele avisa que é amigo pessoal de Clarah. Bom, então por que continuou escrevendo? Será que nas aulas de ética da Famecos ele estava no bar comendo tofu? Tsk, tsk. De qualquer maneira ele cita um trecho onde Clarah conta que se apaixonou por um cara usando calças glam. Logo ela seria uma glam-mother e o rapaz um glam-father. Até pode ser. A ZeroZen, a única revista Zero que vale a pena ler, acredita, porém, que o livro é uma glam-de bosta e o resenhista um glam-de imbecil.

Da equipe de articulistas