47ª Feira do Livro de Porto Alegre: Adeus aos Balaios
Já diz o ditado tudo que é bom um dia acaba. A tradicional Feira do Livro de Porto Alegre dá sinais nítidos de extrema-unção. O pior de tudo é que previsível pesadelo de anos atrás finalmente se tornou realidade. Os livreiros começaram a se queixar da inflação, do custo de vida, do preço do papel, do time do Internacional, enfim... tudo para justificar o fim do desconto dos 20%.
Atualmente cada editora decide o percentual da oferta. Muitos querem que o desconto seja de apenas 10%. Mais cedo ou mais tarde a idéia parece que vai vingar. A feira vai perder a graça e milhares de leitores perderão a chance de adquirir algum exemplar por um preço acessível. Inclusive as vendas deste ano ficaram abaixo do esperado. Tempos sombrios se aproximam, caro zeronauta...
A 47ª Feira do Livro de Porto Alegre escolheu como slogan a frase: Você é O Que Você Lê. Bem, curiosamente, alguns livreiros resolveram desovar a coleção clássicos da literatura da editora Altaya a módicos R$ 5,00. O resultado uma correria para adquirir os exemplares disponíveis. As vendas foram tantas que o romance Agosto de Rubem Fonseca, incluído na coleção, está entre os mais vendidos da Feira. Conclusão? Se você é o que você lê e o único livro que muita gente consegue comprar custa R$ 5 significa que existem mais gente sem dinheiro do que imagina a Câmara do Livro...
Confira a lista dos mais vendidos:
NÃO-FICÇÃO
1 - Prezados Ouvintes, Histórias do Rádio, de Mauro Borba, Artes e Ofícios
Um incrível caso de persistência e de virada de mesa. Na Feira do Livro do ano passado Prezados Ouvintes era encontrado a R$ 5 nos balaios da Artes e Ofícios. Os exemplares eram tão pouco manuseados que estavam cobertos de pó. Ao invés de queimar o material a editora pegou o mesmo livro, trocou a capa e ardilosamente colocou à venda como se fosse algo novo. Como brasileiro é mesmo um povo sem memória o truque funcionou. Ou é isso ou a família do Mauro Borba aumentou bastante...
2 - Dez Anos que Abalaram o Século XX, de Paulo Fagundes Vizentini, Novo Século
Sinceramente, se você desejar ler um livro sobre o tema comece com Rumo a Estação Finlândia de Edmundo Wilson.
3 - O Fascínio da Estrela, José Fortunatti e Antônio Holfeldt, Mercado Aberto
Um livro que cresceu muito com a saída de José Fortunatti do PT. O timing foi perfeito e rendeu horas de mídia gratuita. Com um estratégia agressiva de marketing dessas vai ser fácil para Fortunatti continuar na carreira de escritor...
4 - Viagem, de David Coimbra e Fernando Eichenberg, Artes e Ofícios
Ok. David Coimbra está se tornando uma instituição gaúcha. O tipo de escritor que as pessoas não lêem. Apenas compram o livro para ganhar uma espécie de verniz cultural. David escreve sempre a mesma coisa do mesmo jeito. Compre apenas para enfeitar a sua estante.
5 - Farrapos, de Carlos Urbim, ZH-Publicações
O livro conta aquela história que você já está careca de saber. Aliás, se você conhece o fim da história para que gastar o seu dinheiro?
FICÇÃO
1 - Non-stop - Crônicas do Cotidiano, de Martha Medeiros, L&PM
Não, não, mas não mesmo. Tudo que existe de pior, de mais óbvio, de raciocínio mediano, surge nas crônicas pífias de Martha Medeiros. Verdade seja dita, ela possui a rara qualidade de tornar desinteressante qualquer assunto sobre o qual escreve. Use o livro para pegar no sono, de preferência como travesseiro.
2 - As Mentiras que os Homens Contam, de Luis Fernando Veríssimo, Objetiva
Ao contrário do David Coimbra, Luis Fernando Veríssimo já é uma instituição gaúcha. Isto significa que há uns 10 anos ninguém mais lê os seus livros. Todavia, a patuléia continua comprando nem que seja para completar a coleção. Logo, as férias da Veríssimo estão para lá de garantidas.
3 - Mixórdia - O Menos Pior de Radicci, de Iotti, L&PM
Iotti é com certeza o melhor chargista de Zero Hora. Embora, é preciso que se diga, que concorrer com o Marco Aurélio (Humor Fáxil, quem se lembra?), não chega a ser um grande mérito. O título é um primor de honestidade. Aguarde o ano que vem e compre nos balaios.
4 - O Perfume, de Patrick Süskind, Record
Epa! Epa! Como assim? Um romance antigo, do século passado, que na época de seu lançamento se tornou um tremendo best-seller. Basicamente o primeiro livro a explorar o cheiro como um truque literário. Porém nada justifica sua presença entre os mais vendidos... exceto pelo preço. Tudo por causa da coleção Clássicos da Literatura da Editora Altaya que colocou este e outros títulos a R$ 5,00. Vende mais quem cobra menos. Detalhe: como literatura O Perfume vale menos do que R$ 5,00.
5 - O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel, de J.R. R. Tolkien, Martins Fontes
Honestamente pessoas que lêem a trilogia de J.R. R. Tolkien têm problemas. Além de possuir um enorme tempo livre para superar os calhamaços de cantorias desinteressantes. É muito melhor ver o filme. Termina mais rápido e ainda tem efeitos especiais.
P.S. - Na área infantil só deu o bruxinho Harry Potter. J.K.Rowling é uma escritora profissional que sabe como pagar as contas no fim do mês. Porém é bom que se diga Harry Potter é literatura pop para iletrados. Sequer pode ousar uma mínima comparação com o clássico de Robert Louis Stevenson, A Ilha do Tesouro.