Enchente histórica: Muro da Mauá riu por último
Porto Alegre está se preparando para o apocalipse como nenhuma outra cidade brasileira. Enfrentou pandemia, uma série de prefeitos risíveis e ano passado suportou um evento climático extremo. Agora, teve o privilégio duvidoso de encarar a maior enchente de todos os tempos, superando a marca histórica de 1941. Como resultado, as ruas do Centro Histórico foram tomadas pela água que transbordou do Guaíba.
Sim. Quem mora no centro da cidade ficou embasbacado. Todos olhavam para o horizonte na esperança de ver Noé chegando com a sua arca. Como resumir uma situação tão dantesca? Fácil. Basicamente é como se fosse o saldo financeiro da ZeroZen. Ou seja, a situação é terrível e tende a ficar pior nos próximos dias...
Porém, existe um herói solitário nessa história trágica. Chama-se Muro da Mauá. A obra foi concluída em 1974. A construção da estrutura teve como justificativa proteger a cidade contra enchentes. No caso, como a que ocorreu em 1941. Até agora, era a pior tragédia ocorrida na cidade. Com medo de uma nova enchente, o Muro foi construído.
Para quem é de outro Estado, imagine uma "muralha" que protege a cidade ao longo de 60 quilômetros. A construção foi projetada para suportar uma cota de enchente de até 6m. Isso teria sido suficiente para evitar a tragédia. Porém, o rompimento de uma das comportas e várias casas de bombas com defeito provocaram o caos.
Como recordar é viver, é preciso destacar que o ex-prefeito de Porto Alegre Nelson Marchezan Júnior era contra o muro. Vale dizer que o atual prefeito, Sebastião Melo também não morre de amores pela obra. Aliás, em 2019, Marchezan foi ainda mais enfático. “Eu quero derrubar o Muro do Cais da Mauá, eu gostaria de ser o piloto do trator que irá derrubar o muro. Temos muitos muros que deveriam ser derrubados, mas que não são por medo", declarou.
Só que, desta vez, o medo venceu. Esteticamente, o muro não combinava com o Cais Embarcadero. Um projeto feito para valorizar os empreendedores locais. Bem, agora todos estão - literalmente - se afundando em dívidas. O Cais Embarcadero naufragou. Porém, a tragédia poderia ser ainda pior se nao fosse a existência do Muro da Mauá. Se não conseguiu impedir toda a enchente, pelo menos foi capaz de reduzir um pouco os estragos.
Ainda assim, talvez o muro não seja a solução mais eficaz. O fato é que para proteger a cidade, se entrega o Cais às enchentes. Isso não é necessariamente uma boa ideia. Uma solução sugerida pelo Consórcio Revitaliza seria o uso de uma estrutura móvel, acionada quando tiver previsão de cheia do Guaíba.
Apesar de parecer arriscado, existem atenuantes. O ritmo de elevação das águas é lento e pode ser previsto. Na verdade, é a cheia dos rios da bacia do Jacuí que provoca a elevação das águas do Guaíba. Então haveria tempo suficiente para instalar a estrutura modular e impedir a enchente de atingir a Capital gaúcha.
Mas até lá Muro da Mauá riu por último. Mesmo criticado por todos fez a sua parte e evitou ainda mais estragos. A solução para evitar novos desastres é planejamento. Pois é... Ao contrário do que imagina o governador do Estado, a solução não é aumentar impostos. Não é hora de criar o ISCF (Imposto Sobre Chuva Forte) ou o ISEH (Imposto Sobre Enchentes Históricas).
E como a população de Porto Alegre reage a um cenário apocalíptico? Simples. Vai ao supermercado mais próximo comprar papel higiênico em doses cavalares. O motivo? Quem mora na cidade sabe que mais cedo ou mais tarde vai dar merda...
P.S. O governador Eduardo Leite passou por uma pandemia, por um evento climático extremo e agora pela maior enchente de todos os tempos. Ou seja, é possível discordar das suas posições ideológicas, mas não dá para negar que ele é um tremendo pé-frio...