Enchente histórica: é hora de apontar os culpados?
Uma parcela representativa da população de Porto Aegre, os idiotas, acredita que o momento é de esforço, fé, união e não de apontar culpados. Aliás, normalmente quem diz que não é hora de apontar os culpados, é justamente o culpado. Inclusive, essa frase não é da ZeroZen. A gente pegou emprestado de um site de notícias. Hein? Se isso é plágio? Ora, por favor, não é hora de apontar culpados...
Porém, os culpados existem e são fáceis de serem encontrados. Vamos aos fatos: o Plano Diretor de Porto Alegre simplesmente ignorou a possibilidade de enchente no Guaíba. Em 2023, a prefeitura apresentou um documento com 200 estratégias organizadas em cinco objetivos que orientam a elaboração da nova proposta. Nenhuma delas, contudo, menciona “cheia”, “enchente” ou considera a elevação do nível do Guaíba. Vale notar que o Estado já tinha passado por um evento climático extremo. Mas isso aparentemente não causou preocupação no prefeito Sebastião Melo.
Parece ruim, certo? Todavia existe ainda mais burrice acumulada. Cinco anos antes da maior enchente da história de Porto Alegre, a prefeitura da capital era governada por Nelson Marchezan Júnior (PSDB). Ele teve na mão um financiamente de 121,9 milhões de reais. Todo esse dinheiro seria destinado a obras de prevenção a cheias do Guaíba. Detalhe importante: o montante seria usado na reforma de 13 casas de bombas e também para dragagem do Arroio Moinho. A grana viria do governo federal. Zero impacto nas contas públicas.
O contrato para liberação dos recursos foi assinado em 2012, na gestão José Fortunati. Porto Alegre definitivamente teve a sua cota de prefeitos questionáveis. De qualquer forma, a liberação é sempre complicada. Leva tempo mesmo. Porém, em 2019, já no fim da administração Marchezan, a Caixa Econômica Federal divulgou que os acordos com as empresas que conduziriam as obras foram rompidos porque a prefeitura perdeu prazos.
Será que ainda tem mais coisa errada? Claro que sim. O governador Eduardo Leite se tornou famoso por ser o autor de propostas que flexibilizaram leis ambientais. Como, por exemplo, a implementação do autolicenciamento ambiental. Em 2020, o governador conseguiu a aprovação do Projeto de Lei 260, que libera no Rio Grande do Sul agrotóxicos proibidos nos seus países de origem. Deu para perceber que Leite não é um defensor da natureza.
Então, o governador não gosta de árvores? Muita calma nessa hora. Em 2023, Leite divulgou um estudo financiado pela gigante de celulose CMPC para quadruplicar a área dedicada à silvicultura. Os ambientalistas protestaram de forma veemente. Mas o plano foi aprovado. O plantio de monoculturas de espécies exóticas terminou sendo autorizado. E em uma daquelas coincidências do destino a CMPC anunciou investimento bilionário no estado...
Então, a ZeroZen vai processar todos os responsáveis por transformarem o Rio Grande do Sul em um pântano? Não. Até por que o nosso setor jurídico fugiu para a praia. Hein? Se a gente está sendo covarde? Ora, por favor, não é hora de apontar culpados...