Diário do Fim do Mundo


26/11/2001 - A Burca é a Lingerie das Mocréias

A televisão de maneira ladina e ardilosa vem colocando, quase que de maneira subliminar, a burca, a vestimenta usada pelas mulheres afegãs, como um instrumento de repressão utilizado pelo regime Talibã. Para quem ainda não sabe esta roupa se parece mais com uma tenda ambulante e tem por objetivo tapar completamente o corpo das muçulmanas, que segundo interpretação do Alcorão, não podem mostrar nenhuma parte de seu corpo quando saem à rua.

Curiosamente a venda de burcas não diminui agora que o regime Talibã está em estado de penúria e mendicância. Mesmo com a Aliança do Norte tomando conta do Afeganistão os vendedores do traje continuam faturando muito bem. É lógico que se pode concluir que a roupa é como se fosse uma tradição do povo afegão, não importando se o regime é fundamentalista ou democrático. Faz parte das cultura das mulheres do lugar. Para elas usar algo como a burca não significa repressão.

Todavia, a verdade cristalina é que a burca é a lingerie das mocréias. No mundo ocidental onde tudo pode ser visto, esconder o corpo pode parecer hipócrita, mas no Afeganistão isto faz muito sentido. Senão vejamos, alguém algum dia já viu uma miss universo afegã? Alguma revista de moda anunciou em um editorial glamouroso o surgimento de uma nova top model vinda do país de Osama Bin Laden? Claro que não.

Cercadas de tristeza e morte por todos os lados, as mulheres do Afeganistão envelhecem cedo. Como se não bastasse, são obrigadas a suportarem os rigores da guerra. E o país parece ter uma tendência, devido a sua grande quantidade de etnias, a estar sempre em conflitos sangrentos. Por isso a burca é sua proteção. Até mesmo por que é preciso seguir o ciclo biológico. Apesar de todas as tragédias continuam nascendo crianças no Afeganistão.

Assim, a grande arma de sedução das afegãs é a burca. Seu futuro marido só pode ser um pouco dos olhos e ouvir uma pitada sua voz. É quase como comprar um cd inteiro por causa de uma única música. Evidentemente, como sói acontecer nestes casos, o Alcorão ordena: levantou a burca tem de casar. Não há escapatória para o pobre rapaz afegão. Sua pretendida pode ter a desagradável aparência de um bichinho da goiaba, mas agora o mal está feito.

Por isso, a burca é essencial. Se ela não existisse o Afeganistão já tinha acabado por falta de quórum. As mulheres do país seguem uma velha regra: "se você não tem beleza para mostrar, esconda!". Como no escuro ninguém é de ninguém, as afegãs seguem vivendo, na medida das possibilidades, bem felizes. O único problema é algum estilista querer lançar a burca como a nova sensação fashion da moda. Com isso, todos os trubufus, todas as barangas estariam a um passo de dominar o mundo. E uma nova Guerra contra o Terror acabaria por surgir...

Da equipe de articulistas

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