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Gerente do Fome Zero

Um talher para Lula não é o mesmo talher para Fernando Henrique. Se Pedro Malan pedisse o sal, certamente não seria o mesmo sal do Frei Betto. É, zerozenauta, o novo governo decidiu atacar a fome com um projeto recheado de siglas que podem ficar pior se a moda pegar. Se você está por fora, o Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar é MESA. Esta base vai
sustentar o COPO (Conselhos Operativos do PrOgrama Fome Zero), o SAL (agentes de Segurança ALimentar) e o PRATO (PRograma de Ação TOdos pela Fome Zero). Isso que ainda vão instalar o Talher. Como o governo é novo e ainda dá tempo pra você se adaptar à esquerda no pudêr, a ZeroZen, a única revista que acredita que Fome Zero é coisa de faquir, descobriu o método usado por Duda Mendonça e a turma do restaurante do governo.

1) O seu objetivo precisa ser algo marcante, que atinja muitas pessoas e seja um pouco impossível de ser alcançado.

2) Apesar deste foco definido, o tema precisa ter pano pra manga. Não adianta querer fazer uma campanha sobre os problemas provocados pelo engarrafamento em tal avenida ou o alto preço da cerveja em uma determinada casa noturna da Cidade Baixa. Fale sobre o Trânsito ou Bebida Cara. Isso vai aumentar o seu problema e mais pessoas ficarão sensibilizadas, além do
seu cartel para criar siglas insólitas ser maior.

3) Tudo tem uma lógica, mesmo que ela pareça maluca e sem noção. No caso do engarrafamento, você teria de ter a RODA - Rotas de Orientação para o Desenvolvimento móvel dos Automóveis (um mapa com caminhos alternativos), que leva o MOTORA (MOdos para um Trânsito Organizado e RÁpido) ao seu destino tranquilo.

4) Como o programa é algo vasto, peça ajuda para muitas pessoas. Lembre-se, o governo não tem dois meses e ainda vale a pena aparecer ajudando a turma da estrela. Uma dose de "egocentrismo em prol do próximo" será o perfeito comercial para muitas empresas e a ajuda bem-vinda para o seu programa. E o melhor de tudo: quanto mais gente estiver no mesmo barco, o resto do povo terá menos coragem de rir das idéias.

5) Nessa linha, trate de pedir a colaboração de pessoas famosas para o seu projeto. Se o Fome Zero tem a Gisele Bündchen, não tenha vergonha de chamar a Ana Hickmann ou a Juliana Paes. Trate de espalhar aos quatro ventos que você convidou a pessoa para a campanha. Depois que toda a mídia falar da sua proposta, ninguém vai dizer não - e ainda não vai cobrar para aparecer.

6) Já dizia Milton Nascimento, o artista vai aonde o povo está. Faça como Lula, caia na gandaia e viaje até os focos dos problemas. Se for o trânsito, não tema e vá para as sinaleiras. Lembre-se, ainda dá pra fazer marketing bom do governo. Lembra do tempo dos fiscais do Sarney? Todo mundo ajudava, mas depois a máscara caiu, o povo se ralou e o marimbondo pegou fogo...

7) Se alguém criticar a sua idéia, faça como José Genoíno e diga "o programa não é perfeito", dizendo que não nasceu pronto e precisa muito da ajuda da sociedade. Seja enfático ao falar e ainda rebata colocando a culpa nos brasileiros. Evoque seu institno populista e fale "precisamos da sua ajuda para dar certo, nosso exército precisa dos guerreiros anônimos da nação".

8) Explore as mídias. Lembre que a Internet não tem limite no tamanho da página ou tempo no ar e faça rápidas chamadas, dizendo que todo o conteúdo está para download em um website. Além de parecer moderno, você poderá mostrar que ainda busca a inclusão digital - "xique no úrtimo".

9) Retomando o passo 3, monte palavras fáceis, que até o catador de papel guarde. No caso da sigla RODA, este nobre trabalhador iria dar lugar para os carros nas ruas se fosse para facilitar o programa de "guverno".

10) Se tudo falhar, troque de ministério ou vá para Cuba. Como lá o governo controla a comunicação, basta trabalhar bem quietinho pro barbudo que ninguém mais vai ouvir falar da sua pessoa.

Se o Fome Zero é assim, como será a campanha do carnaval? Depois do Bráulio, só falta ser instituído o FODA, Força de Orientação e Defesa contra a Aids.