Com a fúria de um herege

O Grêmio nasceu para disputar a Libertadores. Não há dúvida disso. Se classificou de forma dramática na primeira fase. Por uma bizarra combinação de resultados foi obrigado a pegar o temível São Paulo, logo nas oitavas-de-final. Ninguém da imprensa teve um segundo sequer de hesitação para declarar o time paulista como franco-favorito.

Na primeira partida o São Paulo conseguiu um 1 X 0 tão magro quanto injusto. Mesmo assim, a equipe de Muricy Ramalho e Rogério Ceni desembarcou no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, virtualmente classificada. Porém, na hora do jogo, a coisa não funcionou como os paulistas imaginaram.

O Grêmio fez uma atuação digna da imortalidade tricolor, como raça e superação. Venceu por 2 X 0 e despachou os favoritos de volta para a casa. Então, parecia que a sorte voltara a sorrir para o tricolor. Era a vez de enfrentar o Defensor. Um time limitado, que conseguiu eliminar o Flamengo, eterno amarelão, e freguês universal de quem saber marcar.

Porém, nada é fácil com o Grêmio. O tricolor não jogou nada fora de casa. Perdeu por 2 X 0. Merecia ter levado muito mais, só escapou da goleada devido a mediocridade do Defensor. No jogo de volta, o tricolor gaúcho conseguiu outro milagre. Fez 2 X 0 em dois gols estranhos, com a bola entrando espirrada e no cantinho. Bem, era hora de ir para os pênaltis. Como se sabe, o Grêmio não se dá bem neste tipo de decisão.

Só que a verdade é que o Grêmio nasceu para Libertadores. E contra todos os prognósticos venceu nos pênaltis. Contudo, a torcida nem teve muito tempo para comemorar. O Santos de Vanderley Luxemburgo e Zé Roberto era o adversário das semifinais. Uma equipe com tradição de ser imbatível em seu estádio, a Vila Belmiro.

Como o Santos tinha a melhor campanha da Libertadores a primeira partida era o Olímpico e o confronto derradeiro seria na Vila. Novamente, os paulistas foram apontados como franco-favoritos. O problema é que, como já foi dito, o Grêmio nasceu para a Libertadores. Em uma partida sensacional, o tricolor gaúcho surrou o Santos. Venceu por 2 X 0, mas deveria ter sido mais, muito mais.

No jogo de volta, Diego Souza marcou logo no início do jogo um gol salvador. Pronto. Graças ao saldo qualificado, o Santos teria de fazer 4 X 1 para levar para os pênaltis. Com o regulamento debaixo do braço e munido de uma retranca implacável o Grêmio jogou para se classificar...Perdeu por 3 x 1, mas seguiu adiante na competição. Com a fúria de um herege, o time de Mano Menezes despachou o Santos.

O problema é que a final é com o Boca Juniors. Sim, o time argentino mais chato de todos os tempos. É hora de enfrentar o inferno da Bombonera. O Grêmio precisa - em todos os sentidos - sair vivo da primeira partida. Se uma tragédia ocorrer, a partida de volta, no Olímpico pode ter uma comemoração ao som de um lamuriento tango.

Jarbas Schier