Dorival Jr traz o funcionalismo público para a Seleção

O Brasil está fora da Copa América. Empatou em 0 a 0 com o Uruguai e acabou eliminado na disputa de pênaltis. Mas, verdade seja dita, a equipe comandada por Dorival Jr apresentou um futebol sonolento e burocrático. Foi quase como assistir a uma repartição pública às 9h da manhã de sexta-feira.

Claro que o atilado leitor da ZeroZen pode se perguntar: mas o que acontece em uma repartição pública às 9h da manhã de sexta-feira? A resposta é simples: nada. Seja qual for o problema, ele vai ficar para a semana que vem. Afinal de contas, funcionário público se esforçando na véspera do fim de semana é pedir demais.

Foi exatamente assim que a Seleção brasileira enfrentou o Uruguai. Sim. Dorival Jr trouxe o funcionalismo público para a Seleção. Nada acontece. Todo mundo parece correr em círculos. O tempo passa, mas ninguém produz nada digno de nota.

Brasil e Uruguai ficaram trocando faltas e provocações. O jogo deveria ter, no mínimo, um festival de cartões amarelos. Foram mais de 40 faltas. Porém, o árbitro argentino Dario Herrera - que teve uma atuação abaixo da crítica - foi complacente com toda a pancadaria. Aliás, isso explica a atuação discreta de Endrick. O atacante tentou o tempo todo cavar falta. Foi ingênuo. Em um clássico entre Brasil e Uruguai o juiz só apita quando há uma fratura exposta.

Mas e a partida? Antes de mais nada, é preciso aproveitar o momento para explicar um pouco melhor as táticas utilizadas pelos treinadores. Dorival Jr usou um esquema de jogo conhecido como VEP (Vamos Esperar pelos Pênaltis). Então o Brasil só se preocupava em marcar e trocar passes laterais para ganhar tempo até o final da partida.

Do lado uruguaio, Marcelo "El Loco" Bielsa foi mais ousado. Ele usa o esquema PCD (Pra Cima Deles). Basicamente, os integrantes da Celeste partem correndo para cima do adversário como se fossem um guerreiro viking ensandecido. Isso serve para provocar o erro do adversário. Claro, basta uma triangulação bem feita para resolver esse problema. Mas isso seria pedir demais da Seleção brasileira...

Porém, o Brasil teria oportunidade de ouro para sair com a vitória. Aos 35 minutos, Nandéz fez uma entrada criminosa em Rodrygo. É caso para cadeia em uns 15 países. Mas o árbitro Dario Herrera - com uma certa relutância - optou pelo cartão amarelo. O VAR chamou. Sem ter outra alternativa, o juiz expulsou o jogador uruguaio.

Bem, aí o técnico uruguaio rapidamente adotou o esquema VEP. Retrancou a equipe e esperou pela incompetência brasileira. Com um jogador a mais, Dorival Jr deveria ter adotado o PDC. Mas não foi isso o que aconteceu. O Brasil seguiu trocando passes de forma burocrática como estivesse carimbando documentos sem importância.  

Com tanta displicência, o resultado só poderia ser mesmo 0 a 0. Na hora dos pênaltis, Militão e Douglas Luiz erraram. Detalhe: nenhum dos dois deveria - em hipótese alguma - estar na lista de batedores. Alisson até pegou uma penalidade. No final, prevaleceu a catimba e a raça uruguaia. 4 a 2 nas cobranças e o Brasil voltou mais cedo para casa.

  A pergunta é: o futebol burocrático e sem inspiração criado por Dorival Jr é suficiente para garantir uma vaga para a Copa? A resposta é: sim. Por que os adversários são fracos e o número de vagas é alto. Porém, querer acreditar que com um elenco de batedores de carimbo a gente vai ser hexa... Aí já é pedir demais.

Jarbas Schier