No porão esportivo da América Latina

Imagine uma casa cheia, na qual rola uma festa divertida com tudo de bom e do melhor. Mas esse mesmo local tem um porão abafado, infecto e imundo onde ficam as pessoas que foram recusadas na festa. Pois bem. Essa é a sensação de jogar uma copa Sul-Americana. Pelo menos o Grêmio venceu o La Equidad por 2 a 1. Porém, não dá para dizer que foi um jogo tranquilo.

Sim, a terrível verdade é que o Grêmio está tendo o desprazer de passar uma temporada no porão esportivo da América Latina. Ao contrário do que outros times do Rio Grande do Sul possam pensar, disputar a Sul-Americana não é um mérito. É uma daquelas obrigações chatas, mas necessárias como o almoço de Natal com toda a família reunida. Antes que alguém pergunte: a corneta não vai falar do fiasco colorado contra o Always Ready. Primeiro porque a tragédia era óbvia, anunciada, previsível. E segundo que pelo menos foi um vexame na Libertadores. Há uma certa grife nesse fracasso.

De volta ao porão. O Grêmio dominou a primeira etapa. Ficou nítido que o La Equidad veio buscar um empate na Arena. Isso até faz sentido com o nome do time. Se os colombianos jogassem pra frente se chamaria La Vitoria. De qualquer forma, o gol só saiu aos 36 minutos. Ferreirinha fez ótima jogada pela esquerda e cruzou. Diego Souza se antecipou à zaga e cabeceou para baixo com categoria.

Só que na segunda etapa, o Grêmio desanimou. Meio que o time percebeu que está em uma competição de segundo nível. O La Equidad veio pra cima em busca do empate. Novamente Brenno se destacou. A torcida gremista ainda não acredita que passou um ano inteiro vendo o seu time jogar sem goleiro. E o Brenno esperando uma chance. É dose pra mamute.

Só que aí a vida do tricolor gaúcho se complicou em função de uma expulsão ridícula. Rodrigues fez falta em Pacheco. O árbitro Eber Aquino deu amarelo. Correto. Mas o bandeirinha viu um suposto tapa do zagueiro Tricolor no jogador do La Equidad. Só que nenhuma câmera de TV conseguiu flagrar essa agressão. Somente o poder da imaginação do trio de arbitragem. Aliás, no primeiro tempo, Alisson recebeu um pisão assassino de um jogador da equipe colombiana. Era um lance para vermelho direto. Tanto que o jogador gremista saiu lesionado. Mas o árbitro deu um reles cartão amarelo.

Ah, mas tem o VAR. Não. Até parece que no porão esportivo da América Latina teria alguma novidade tecnológica. Então, Paulo Miranda entrou em campo. E não é que foi uma boa substituição? Aos 32 minutos, Rafinha cruzou na medida, no segundo pau, buscando Diego Souza. O centroavante escorou de cabeça para o meio da área. Então, Paulo Miranda apareceu em velocidade e tocou para o fundo da rede. Era 2 a 0 da tranquilidade? Longe disso.

Com um a mais, o La Equidad partiu com tudo para o ataque. Tanto que conseguiu descontar. Aos 44 minutos, Omar Duarte recebeu a bola dentro da área gremista. Parou, olhou, escolheu um canto para bater, mediu as condições do vento, calculou uma parábola perfeita e chutou. Ou seja, com tanta liberdade assim fica difícil errar.

Só que o jogador colombiano mal teve tempo de comemorar. Fez uma falta mais dura em Rafinha e foi expulso nos acréscimos. Se você pensa que essa foi outra expulsão ridícula, acertou. Nitidamente, o árbitro compensa um erro com outro equívoco. Deve ser por isso que termina apitando partidas no porão esportivo da América Latina.

Agora, o tricolor volta a campo no sábado. Vai enfrentar o Ypiranga, às 21h, pelo Gauchão. É a última rodada da fase de grupos. Pela Sul-Americana, a próxima partida é contra o Lanús, reeditando a final da Libertadores de 2017, na quinta-feira da semana que vem, no La Fortaleza.

Jarbas Schier