Ascensão e queda do cavalo paraguaio

A ZeroZen passou o ano inteiro falando do Grêmio. Os motivos para a existência da corneta foram muitos. O tricolor gaúcho fez um campeonato melancólico e macambúzio. Mas, durante todo esse tempo, o Inter ficou de lado. Por isso, justamente na última rodada, justamente no momento em que o Flamengo comemora mais um título é hora de falar do colorado.

Antes de mais nada, um jargão comum no futebol é o chamado cavalo paraguaio. E vale a pena saber como essa expressão surgiu. Reza a lenda que tudo começou no dia 6 de agosto de 1933, no Hipódromo Brasileiro. Nessa ocasião seria disputado no Rio de Janeiro o primeiro Grande Prêmio Brasil. As casas de apostas foram à loucura. Mas, para a surpresa de todos, “Mossoró”, um cavalo pernambucano de descendência paraguaia, acabou vencendo a prova.

Então a expressão “cavalo paraguaio” passou a designar alguém ou algo que tem um arranque poderoso. Ao ser incorporado no vocabulário futebolístico nacional, o “cavalo paraguaio” passou a ser o time que tem boa atuação no começo de um campeonato e a seguir cai de produção e termina no meio ou mesmo no final da tabela de classificação.

O Inter, claro, é um verdadeiro cavalo paraguaio há mais de 40 anos. No começo do campeonato, antes da pandemia, ele disparou. A partir daí, a tacanha mídia esportiva gaúcha fez um esforço incrível para achar qualidades técnicas superiores na equipe colorada. Mas, na verdade, era o mesmo cavalo paraguaio de sempre.

E, esse detalhe é muito importante, depois de começar bem o Inter de Coudet empilhou três derrotas consecutivas. O treinador resolveu ir para a Europa e o colorado foi se afundando no campeonato. Novamente, isso faz todo o sentido. Era o mesmo Inter de sempre.

Só que veio Abel Braga e o Inter passou a praticar um futebol varzeano. Retranca, bola na área e ajuda do VAR. Funcionou. Por que, de novo, o começo do ano é o melhor momento de qualquer cavalo paraguaio. Foi por isso que o Inter vencia sem parar no início de 2021! Essa é a explicação para as nove vitórias em sequência. Perceberam? Essa é a principal característica do cavalo paraguaio!

Só que quando o Inter se deu por conta, o campeonato estava no fim. Então, houve a ascensão e a queda do cavalo paraguaio. Não há como negar: esse é o destino deste tipo de time. Só que agora, para deixar tudo ainda mais indigesto, os colorados estão reclamando da arbitragem. A pergunta é por quê? Eles só chegaram ao vice-campeonato em decisões, vamos usar um eufemismo, discutíveis realizadas pelo VAR. E ainda tiveram um gol validado contra o Vasco em um clamoroso impedimento de Rodrigo Dourado! Por que o VAR estava descalibrado!

Mesmo assim, a ZeroZen concorda em um ponto com a torcida colorada. O craque do time esteve abaixo do esperado. Claro que não se perde um título só por causa disso. Existem, evidentemente, muitos outros fatores que devem ser levados em conta. Ainda assim, ficou nítido que o VAR teve uma atuação muito ruim nas últimas partidas. É hora de pensar se vale mesmo à pena renovar o contrato para 2021.

Por fim, resta um elogio à direção colorada. Na semana em que o Rio Grande do Sul vive o pior momento da pandemia provocada pelo novo coronavírus, não é hora de comemorar título nas ruas. A incompetência do Inter no empate em 0 a 0 com o Corinthians salvou milhares de vidas. Esse é um time que não ganha títulos e não provoca aglomerações. Parabéns e continuem sempre assim!

Bragantino e Grêmio: o jogo que ninguém viu Aparentemente, o Grêmio enfrentou o Bragantino e perdeu por 1 a 0. Mas ninguém viu. Nem mesmo o técnico Renato Portaluppi, que ficou em Porto Alegre. Terminar com derrota é mais do que justo para o tricolor gaúcho. É quase uma síntese do futebol apresentado. Agora, a chance de redenção está na final da Copa do Brasil. Se o Grêmio for copeiro, se jogar com muito mais vontade do que nas últimas partidas, quem sabe o hexa vem?

Jarbas Schier