A arte de vencer na derrota
Grêmio é o campeão gaúcho de 2020. E mesmo assim a torcida se sente com raiva, indignada e com toneladas de frustração acumuladas. É sinal de que o futebol do tricolor gaúcho atingiu a maturidade. Por que a vida adulta é assim mesmo. A equipe treinada por Renato Portaluppi perdeu para o Caxias por 2 a 1 na Arena. Como tinha vencido a primeira partida por 2 a 0, ganhou a taça no saldo de gols. É feio vencer assim? Não. Feio é não ganhar títulos...
O Grêmio começou bem a partida. Apesar das alterações: Darlan, Lucas Silva e Everton iniciaram como titulares. Mas o que realmente importava era a volta de Diego Souza ao time. O centroavante mostrou por que é uma das melhores contratações do Grêmio na temporada. Aos 14 minutos, o artilheiro abriu o placar para o Grêmio.
Victor Ferraz fez um cruzamento pela direita. A bola encontrou Everton livre dentro da área. O atacante emendou de primeira e acertou na trave. No rebote, Diego Souza não perdoou e fez 1 a 0. Logo depois, aos 18 minutos, Jean Pyerre soltou uma bomba de fora da área, por muito pouco o tricolor não amplia o marcador.
Mas aí começou a vida adulta do Grêmio. Os jogadores recuaram. Ficaram com aquela sensação de paz e calma de quem pagou todos os boletos do mês e ainda sobrou dinheiro. E, afinal de contas, o Caxias precisava fazer 3 gols para levar a partida para os pênaltis. Só que a equipe da Serra começou a tomar conta da partida.
Tanto que, aos 42 minutos do primeiro tempo, Ivan cruzou e Laércio subiu mais alto que a zaga gremista. Foi uma cabeçada mortal e o goleiro Vanderlei nada pode fazer. O empate era justo. A dúvida era como o Grêmio voltaria para a segunda etapa. Ele iria seguir atacando ou iria recuar para garantir o resultado?
O Grêmio retornou lento, preguiçoso, apático. E o Caxias aproveitou. Bruninho avançou pela direita e tentou cruzar. A bola desviou em Kannemann e surpreendeu o goleiro Vanderlei. Sim, foi um gol espírita e completamente aleatório, mas com isso a equipe da Serra passou a depender de um único gol para levar o título. Por que todo mundo sabe que Grêmio e decisão por pênaltis não combinam.
Renato Portaluppi perdeu a paciência promoveu mudanças: Luiz Fernando e Isaque entraram nos lugares de Everton e Jean Pyerre. O time piorou. Perdeu o meio de campo para o Caxias, que passou a atacar com a fúria de um herege. Aos 32 minutos, Renato colocou Thiago Neves no lugar de Lucas Silva. Ele ainda não justificou a sua contratação, mas - verdade seja dita - conseguiu segurar um pouco o meio de campo.
A pressão do Caxias continuou. O Grêmio praticamente não criava chances de gols. Mais uma vez, o técnico gremista mexeu no time. Maicon e David Braz entraram no lugar de Diego Souza e Darlan. Basicamente, o tricolor gaúcho abriu mão de atacar e ficou esperando um contra-ataque. O Caxias partiu para o sufoco. E quase conseguiu o terceiro gol nos acréscimos. Laércio chutou de dentro da área no canto direito e Vanderlei espalmou. Depois foi só esperar o fim da partida e contar quantos gremistas tiveram um infarto do coração.
Em tempo, o Grêmio conseguiu outro tricampeonato gaúcho. E isso não acontecia há 30 anos! Renato Portaluppi levantou a sua sétima taça em sua terceira passagem pela equipe gremista. Como se não fosse suficiente, desde o mito Osvaldo Rola, ele é o primeiro treinador a vencer três títulos estaduais seguidos no RS.
P.S. - Algum coach motivacional pode fazer uma palestra chamada "A arte de vencer na derrota" e usar como exemplo essa partida do Grêmio...