Marcelo Rospide tem a cara do Grêmio

Para variar, a tacanha crônica esportiva gaúcha estava completamente errada. A torcida dizia que Paulo Autuori não tinha a cara do Grêmio. Já os comentaristas alegam que ele era um grande técnico. Um sujeito elegante e educado que lia Nietzsche no original. Um verdadeiro intelectual do futebol. Bem, foi só Marcelo Rospide, o interino vencedor, assumir que o tricolor gaúcho voltou a ter garra...

É triste ter de constatar o óbvio. A direção gremista gastou tempo e dinheiro para contratar o treinador errado. O tricolor gaúcho desperdiçou vergonhosamente a chance de ganhar uma Libertadores. Ficou evidente que o Cruzeiro não era um adversário tão forte assim. O time mineiro teve mais sorte do que juízo.

A torcida do Cruzeiro lotou o Mineirão. Todos os torcedores da raposa tinham certeza que uma goleada aconteceria e carimbaria o passaporte da equipe comandada por Adilson Batista ao tão sonhado G-4. Sim, os cruzeirenses acreditam ser verdadeiros professores de futebol. É... mas o Grêmio tinha mais Estudiantes em campo...

Verdade seja dita, o Grêmio fez uma das melhores partidas no campeonato. O time entrou com raiva em campo, chutando nacos de grama. A marcação voltou a ser forte e implacável. O time também mostrou o bom e velho ímpeto defensivo (leia-se retranca). Vale notar que Rospide escalou três volantes: Túlio, Rochemback e Adílson. O esquema só não funcionou à perfeição, pois todos os jogadores são muito lentos na saída de bola.

O primeiro tempo acabou em 0 X 0 com o Grêmio tendo várias chances de gol e com Douglas Costa mostrando que merece ser titular. Apesar do bom futebol gremista, foi o Cruzeiro quem abriu o placar. Aos 19 min, Guerrón escapou em velocidade e cruzou na área para Soares. O goleiro Victor foi com tudo para acertar a bola, infelizmente atingiu em cheio o atacante adversário. Pênalti. Gilberto cobrou no canto direito e abriu o placar.

Tudo indicava que a rotina de derrotas fora de casa iria se repetir. Depois do gol, o tricolor gaúcho entrou em pane. Aos 39 minutos, Túlio cometeu falta no campo de ataque, reclamou e recebeu cartão vermelho direto. Um exagero inconcebível. O tipo de coisa que só acontece com o Grêmio.

Se a situação já era ruim ficou ainda pior. Aos 43 min, Fábio Santos caiu na provocação de Wellington Paulista, tentou dar uma cotovelada no rival e também foi para a rua. De novo outro exagero da arbitragem. O mais justo talvez fosse expulsar ambos jogadores.

Então o Grêmio ficou com dois jogadores a menos. A partida se encaminhava para o final. A torcida do Cruzeiro— como sempre— comemorava antes da hora. Foi nesse momento que Marcelo Rospide mostrou mesmo que é o interino vencedor. O Grêmio não desistiu, não ficou refletindo sobre a vida ou lendo Nietzsche no original.

O tricolor gaúcho lutou com raça e superação até o apito final. E foi recompensado pelo esforço. Aos 46 min, Maylson deu belo passe para Maxi López. O atacante invadiu a área e tocou para Herrera, que tentou fazer um gol de letra. Para tudo.

Herrera querendo fazer gol de letra? Que esse seja o último resquício de Paulo Autuori. Chega de querer jogar bonito, pô! Enfim, é óbvio que Herrera errou. Mas a bola ainda sobrou para o atacante que dessa vez teve humildade de dar um bico para dentro gol.

Era empate do tricolor gaúcho. Foi a volta de um Grêmio heróico e irresignado. E isso só pode acontecer com treinadores que entendam como o futebol gaúcho funciona. Portanto, quer a tacanha crônica esportiva goste ou não, Marcelo Rospide tem mesmo a cara do Grêmio.

Jarbas Schier