C.C.M. - Quibi: vídeos curtos e fracasso gigante


Algum brilhante empreendedor pensou o seguinte: está na hora de criar mais um streaming. Sim, nada como competir com gigantes como Disney, Warner, Amazon e Netflix. É uma batalha brutal. Mas para tanto é preciso pelo menos um diferencial. Então o Quibi resolveu oferecer vídeos curtos.

Se o atilado zeronauta percebeu que isso não faz muito sentido, mantenha a calma. Por que a situação vai ficar ainda pior. O Quibi apostou em formatos de vídeo diferenciados. A ideia era produzir conteúdo horizontal e vertical. Bem, é evidente que o vertical é mais voltado para o celular. Já o horizontal normalmente é projetado para ser visto nas TVs. Porém, a empresa garantia que o conteúdo poderia ser consumido tanto na vertical quanto na horizontal. O critério ficava por conta do usuário.

Isso não é tão fácil ou simples de fazer (no caso, os vídeos eram editados para os dois formatos). De qualquer forma, o Quibi oferecia um material "diferente" do formato convencional de filmes ou séries. Basicamente, eram pílulas de 10 minutos. O objetivo é que os usuários usassem o streaming em situações como transporte público, filas de atendimento, e por aí vai.

Aliás, o próprio nome do serviço indica sua proposta: Quibi vem da contração de “quick bites” ou “mordidas rápidas”. Veja bem, apesar da proposta ingênua, havia gente de peso envolvida. Para o posto de CEO, foi escolhida Meg Whitman, que ocupou por anos o cargo máximo na HP. O fundador do Quibi foi Jeffrey Katzenberg. Ele foi por 10 anos o presidente do conselho da Walt Disney e, em sua saída, fundou a DreamWorks.

Tanto currículo chamou a atenção dos investidores. O Quibi recebeu quase US$ 2 bilhões para alavancar seu lançamento e financiar a produção de conteúdo original. As produções originais da empresa tiveram nomes de peso como Steven Spielberg, Guillermo del Toro, Kevin Hart, Anna Kendrick e Jennifer Lopez. Foram 175 programas originais projetados para o primeiro ano do serviço, com 35 deles descritos como “filmes em capítulos”, 120 reality shows e documentários.

Agora vem o grande detalhe. O serviço foi lançado no começo de abril de 2020. Sim, no pior momento da Covid-19. Justamente na hora da quarentena. Ou seja, o seu streaming foi feito para ser consumido na fila do banco e nessa hora todo mundo estava em casa! As pessoas assistiam a filmes na televisão e jogavam videogames e todo o trabalho era remoto.

Mais ainda: a Covid-19 paralisou todas as produções originais. Resultado? Das 910 mil pessoas que assinaram o serviço, a maioria esmagadora cancelou a assinatura antes do fim dos três meses de testes grátis. No final das contas, apenas 72 mil abnegados se mantiveram na plataforma.

A empresa ia de mal a pior. Jeffrey Katzenberg percebeu o óbvio e tentou vender a companhia. Basicamente, ele ofereceu a Marea usada do entretenimento digital para marcas como Apple, Warner e Facebook. Todas recusaram a proposta. O Quibi ainda tentou negociar com a NBCUniversal para vender o conteúdo original da plataforma. Fracassou novamente.

No desespero, no pânico puro e simples, a empresa chegou a lançar um aplicativo para Apple TV, Android TV e Kindle Fire TV. Ou seja, toda aquela história de investir em vídeo para celular era pura balela. Mas a UTI (última tentativa do indivíduo) também não funcionou. Em 21 de outubro de 2020, surgiu a notícia do fim do serviço.

Agora... criar um streaming de vídeos curtos, com conteúdo horizontal e vertical, com a presença de grandes artistas, para ser consumido na fila... será que ninguém no Quibi ouviu falar em Youtube? Além disso, serviços de streaming tradicionais, como a Netflix têm aplicativos para celular. Até a Claro tem a sua versão mobile. Por que alguém iria perder tempo com o Quibi? Era melhor chamar logo a empresa de Quibo (ou seja qui bobagem).

Da Equipe Articulistas