Polystation: o console destruidor de sonhos


Existe uma prova definitiva de quem teve a infância mais miserável. Se você ganhou no Natal um PolyStation, a sua vida foi um verdadeiro tormento de erros e equívocos. A frustração deve ter sido a sua companheira mais constante. Ou seja, toda a amargura, toda raiva, toda a fúria dos dias atuais é plenamente justificada. E esse era o poder do Polystation: deixar as pessoas tristes e abatidas. Hoje, é claro, essa função pertence à ZeroZen.

Aliás, o que esperar de um console que poderia ter como garoto propaganda o Sérgio Mallandro? A genialidade é que o videogame tinha uma carcaça que lembrava o PlayStation da Sony. Inclusive, aparentava ter um leitor de CDs. Só que tudo não passava de um golpe. Na verdade, o Polystation era um console de 8 bits que era uma cópia “não autorizada” do Nintendo!!

Sim, o Polystation ainda servia para provar que seu pai e sua mãe não entendiam nada de tecnologia. Aliás, por que a sua família investiria nesse pesadelo. A resposta é simples. Ele custava pouco. O console custava R$ 99,99 em 2001, enquanto seus “concorrentes” como o Nintendo 64 e o PlayStation eram vendidos, respectivamente, por R$ 659 e R$ 900.

Sua família realmente acreditou que um console de R$ 99 poderia ser tão bom quanto um de R$ 900? Possivelmente. O que fez você perceber que havia gente burra no comando e a única solução para ter um videogame decente era arranjar um emprego e sair de casa. Quem disse que o Polystation não serve para moldar o caráter...

Talvez esse seja o primeiro videogame a dar uma verdadeira aula de fake news. A caixa do produto imitava descaradamente a do PlayStation. No verso, havia imagens do Sega Saturn, PS One e Nintendo 64. Isso é que é cross-gen! A embalagem garantia um som estéreo, mas somente o mono estava disponível. Aliás, a qualidade gráfica dos jogos era muito inferior a dos originais.

O acabamento do aparelho era produzido com plástico vagabundo. O controle imitava o design do PS1 e, pasmem, oferecia 14 botões. Tudo isso para jogar games de plataforma do NES!! Ou seja, algumas teclas eram só enfeites. E para piorar, os fios eram curtos e frágeis, o que obrigava os jogadores a se aproximarem demais da tela. Ideal para quem tem miopia. Sequer precisava usar óculos...

O PolyStation foi lançado em 1997. Porém, no Brasil, só se tornou popular em 2000. No mesmo ano, o PlayStation 2 era lançado no Japão e nos Estados Unidos. O detalhe é que seria preciso uma década para o console da Sony chegar ao Brasil. A tecnologia que permitiu o surgimento do console pirata, porém, surgiu no início dos anos 1990s. O desenvolvimento do NES em um chip (NOAC) permitiu que a placa-mãe do Nintendo, chamada de Famicom na China, fosse reduzida a um tamanho bem pequeno e acessível. O resultado foi o surgimento dos famiclones...

Mais incrível ainda: não se sabe exatamente quem criou e fabricava o PolyStation. É plenamente aceitável ninguém querer assumir a paternidade dessa bomba. O certo é que o clone era produzido na China e violava as patentes da Sony e da Nintendo. O console pirata chegava ilegalmente nos países da América do Sul, América Latina, Sudeste Asiático, Europa e Oceania. No Brasil, a porta de entrada dese videogame era via Ciudad del Este, no Paraguai. Si! ¡La garantía soy yo!

Como se não fosse suficiente, o Polystation teve mais versões. O PolyStation 2 imitava o segundo PlayStation. Mas era a mesma cópia pirata do NES de 8 bits. O PolyStation 2 teve pelo menos uma inovação tecnológica. O console contava com uma tela LCD embutida. Ela mal funcionava. O detalhe genial é que o PolyStation 2 tinha portas USB. Como isso, para jogar um game de NES, é algo mais inútil do que feriado no domingo as portas eram falsas!

Mas o console continuou evoluindo. O PolyStation 3 foi lançado antes mesmo do PlayStation 3. Toma essa, Sony! Assim como os PolyStations 4 e 5. Detalhe: não importa a versão, o videogame segue usando a mesma plataforma de 8 bits...

Por fim, quem recebeu um PolyStation de presente de Natal teve talvez uma das revelações mais assustadoras de toda a sua infância. Se os seus pais só podem te dar um console dessa qualidade, significa que eles são pobres. Muito pobres. Isso simplesmente acaba com os sonhos de uma criança. E esse era o verdadeiro poder do Polystation: deixar as pessoas prostradas, alquebradas e um estado perpétuo de desalento e desânimo. O que, aliás, descreve perfeitamente a redação da ZeroZen...

Da Equipe Articulistas