Orkut: a rede social que o Brasil destruiu
O engenheiro turco Orkut Büyükkökten teve a brilhante ideia de criar uma rede social. Como ele trabalhava no Google, deve ter convencido o seu chefe dizendo que era uma ótima oportunidade para conectar as pessoas. Seria um local para conhecer novas pessoas, paquerar ou até mesmo buscar um novo emprego. Tudo lindo e maravilhoso, até chegarem os brasileiros (ou, como diria o Ice T, there goes the neighborhood).
Orkut foi uma rede social filiada ao Google, criada em 24 de janeiro de 2004. Sim, surgiu antes do Facebook. Aventura durou 10 anos. A rede foi oficialmente desativada em 30 de setembro de 2014. Curiosamente, o nome é originado no projetista chefe, Orkut Büyükkökten. O foco inicial do orkut era conquistar os Estados Unidos, mas não foi bem isso que aconteceu. Na verdade, a maioria dos usuários foram do Brasil e da Índia.
No Brasil a rede social chegou a ter mais de 30 milhões de usuários. Mas terminou atropelada pelo Facebook. Só que a loucura não termina aí. Com o sucesso no nosso país tropical, em agosto de 2008, quando o Google anunciou que o Orkut seria operado no Brasil pelo Google Brasil devido à grande quantidade de usuários brasileiros e ao crescimento dos assuntos legais.
O que seriam esses assuntos legais? Para quem não se lembra, o Orkut foi a porta de entrada para muita gente no mundo da pirataria. A rede social permitia a criação de comunidades. Rapidamente, os brasileiros perceberam que muito melhor do que debater a cura do câncer, era trocar links com material educativo. Por exemplo, a comunidade Discografias era um clássico do gênero
Ela tinha mais de 921 mil usuários registrados. Os usuários compartilhavam continuamente links para álbuns musicais inteiros, sem qualquer pagamento de direitos autorais. Claro que a indústria da música não iria permitir essa moleza. Então, o Orkut era alvo de uma série de ameaças judiciais. Resultado? Em 16 de março de 2009, a comunidade foi desativada.
Durante os seus 10 anos de existência, o Orkut foi marcado pelos depoimentos, scraps, jogos, como, por exemplo, a Colheita Feliz. Além, claro das comunidades (que hoje o Facebook chama de grupos). Elas reuniam pessoas com gostos em comum. E isso começou a mostrar o poder que o brasileiro tem de apatifar as coisas. É só ver exemplos de comunidades famosas: Eu sou mais indie que você; Niilismo miguxo; Se eu morrer, minha mãe me mata; Eu colho Flores, o Tony Ramos; Vodka: connecting people; Eu abro a geladeira para pensar; Herrar é o mano; As cabras não têm muitas ambições e por aí vai.
O fato é que o Orkut teve o mérito altamente duvidoso de introduzir os brasileiros nas redes sociais. Os americanos que usavam a rede social ficaram espantados com a invasão. Basicamente, já naquela época a zoeira não tinha limites. Tal e qual uma praga de gafanhotos, os brasileiros acabavam por destruir tudo pelo caminho. Com uma vizinhança dessas, o restante da humanidade migrou para o Facebook.
Recentemente, um fã fez uma tentativa de recriar o Orkut. O programador brasileiro Murillo Fagá, fez um site em 2017 nos moldes da antiga rede social. Em tese, o Orkut.br.com reproduz com fidelidade o layout e os recursos da plataforma que foi febre entre os brasileiros. Para os mi-mi-milênios é uma chance experimentar a rede social, e também lembrar como era a internet de 10 anos atrás (spoiler: era um lixo)
Em 30 de junho de 2014, a Google anunciou a extinção do Orkut. No 30 de setembro do mesmo ano a rede deixou de existir. O Google criou um museu de comunidades, que reúne mais de 1 bilhão de mensagens trocadas em 120 milhões de tópicos de discussão de cerca de 51 milhões de comunidades. Atualmente não é possível mais visualizar os tópicos arquivados. Contudo, é bem provável que mais da metade seja de zoeira e memes. Dá-lhe, Brasil!
P.S.: O Orkut não foi o único fracasso do Google. Alguém se lembra do Google Plus? E como bons brasileiros podemos dizer orgulhos que não tivemos nada a ver com isso, literalmente...