Chutando Cachorro Morto: Látila


A verdade é que essa edição da seção Chutando Cachorro Morto é muito especial. Pela primeira vez vamos tratar do tema central desta coluna. Ou seja, vamos falar - em todos os sentidos - de um cachorro morto. Por que a pergunta que não quer calar é: "quem se lembra do Látila?". Spoiler: ninguém.

Mas quem é Látila? Antes de mais nada, é preciso falar que existe no Rio Grande do Sul um programa chamado Jornal do Almoço, exibido pela RBSTV no, ora vejam só, horário do almoço. Alguém já definiu como a coisa mais cringe que já apareceu na televisão. De fato, o índice de vergonha alheia é absurdo.

Porém, o Jornal do Almoço completou 50 anos no ar. Isso é um tempo considerável para acumular vexames e fiascos. E um deles parecia esquecido por todos. Porém, no especial feito para reverenciar a longevidade da atração, muitos dos apresentadores foram chamados de volta para falar sobre a sua experiência. Muitos foram retirados da fila do bingo no asilo, mas isso não tem importância.

Lá pelas tantas surge um boneco de um cachorro tentando entrar na emissora de televisão. Após uns 30 segundos de puro constrangimento, o espectador descobre aparvalhado que houve um cachorro apresentando o Jornal do Almoço. A ideia surgiu na época do Xou da Xuxa. A rainha dos baixinhos era campeã de audiência. Então, a editora do programa na época, Vera Zílio, resolveu cativar a audiência infantil.

Daí surgiu a figura do Látila (o nome foi escolhido pelos telespectadores por meio de votação). O boneco era comandado por Mário de Ballentti, que tempos depois estaria na TV Colosso. A retrospectiva mostra alguns dos grandes momentos de Látila. Ele interrompe uma reportagem, tentando roubar a pauta de uma jornalista sobre bonecos japoneses(?) e na bancada do Jornal Almoço diz a seguinte frase: "por isso é muito importante a participação de um cachorro no Jornal do Almoço".

O que veio antes a Globo não mostra. Porém, é fácil de adivinhar. Por que Látila estava no Jornal do Almoço? Ora, por que alguém tinha de apresentar as notícias do mundo cão. Mais ainda: ele provavelmente antecipou a moda do funk ao entrevistar só as cachorras.

Como todo jornalista, Látila descobriu que a profissão é osso duro de roer. Terminou desempregado, esquecido, abandonado, provavelmente comendo restos de bauru no calçadão. O que, na verdade, é o futuro de 90% das pessoas que escolheram cursar jornalismo. RIP, Látila...

Da Equipe Articulistas

P.S. - Não há nenhuma referência ao Látila no Google. Nem mesmo uma página na Wikipédia. Ou seja, quando a única menção que o seu personagem tem em toda a Internet é da ZeroZen... A coisa tá feia mesmo.