Mole, uma vencedora
Até mesmo pelo volume de dinheiro investido, a Rede Globo está fazendo de tudo para valorizar o reality show Big Brother. Infelizmente, o departamento de seleção cometeu o despautério de unir 12 pessoas com uma personalidade tão fascinante quanto a de uma ameba. É uma casa repleta de losers. Porém, como em qualquer jogo que se preze, é preciso haver um vencedor.
Rapidamente os gênios do marketing perceberam o óbvio. O programa entrou no ar sem que houvesse qualquer motivo relevante para cativar o telespectador. Some-se a isso as falhas na edição, o áudio defeituoso, as intervenções desastradas de Pedro Bial e Marisa Orth, a trilha sonora capenga, tudo enfim. Em questão de dias, o maior investimento do ano poderia se transformar em um Titanic televisivo.
Todavia, surgiu um competidor com talento legítimo, alguém capaz de arrebatar multidões, de mesmerizar a platéia de forma definitiva. A autora de tal fenômeno é a cadela Mole. O animal foi colocado na casa com o único intuito de aumentar o nível intelectual do Big Brother, mas demonstrou, de forma hábil, ser uma competidora com plenas chances de vencer o jogo.
Em primeiro lugar, é preciso traçar um histórico deste ser canino especial que cativou todos os brasileiros. A ZeroZen, a única revista que adora chutar cachorro morto, preparou um perfil especial de Mole. Ela ao contrário dos demais participantes veio da classe baixa. Por muito tempo morou nas ruas. Ficou exposta ao sol inclemente e as torrentes do dilúvio. Mas nunca desanimou.
Mole foi criada nos morros. Participou de vários bailes funks onde foi chamada de cachorra várias vezes. Foi uma época difícil, onde ela acabou se relacionando com vários parceiros ao mesmo tempo. O resultado de tanto sexo animal foi uma gravidez inesperada. Mole, é claro, terminou abandonada parindo seus filhos no meio da rua.
Até hoje Mole prefere não falar muito neste assunto. Quando perguntada a respeito do pai de seus filhos, ela tergiversa: "ele era um cachorro". No ponto mais baixo de sua existência, regurgitava o que tinha comido para alimentar sua cria. Salva da miséria por uma alma compreensiva e abnegada, mole estava pronta para conquistar o Brasil.
A produção do Big Brother depois do desastre de suas escolhas iniciais, precisava de alguém que fosse fotogênico e tivesse muita intimidade com as câmeras. Mole estava pronta para o passo mais decisivo de sua fulgurante carreira. Porém, era preciso vencer uma eleição na Internet contra um cão de raça. Foram dias de apreensão, mas o resultado não deixou margens a dúvidas. Mole venceu com mais de 10 pontos de diferença.
A partir do momento em que entrou no Big Brother, Mole começou uma avassaladora caminhada rumo à vitória. Os outros componentes do programa, com exceção do modelo quarentão Caetano, a ignoraram por completo. Inteligentemente, Mole atraiu Caetano o afastando dos demais companheiros. Assim, isolado dos demais ganhou a antipatia dos telespectadores e foi eliminado. Como uma atriz, que aprendeu tudo na universidade da vida, Mole se livrou de um perigoso adversário quase sem esforço.
Tanto talento foi premiado pela audiência. Milhares de emails invadiram as caixas postais do site oficial do programa. Todos reclamando da atitude dos outros moradores da casa, que não foram consolar Mole depois da saída de Caetano. Não há dúvidas. Mole é a sensação do momento. A Globo não colocou a cadela ainda em uma votação para medir sua popularidade, mas ninguém tem dúvidas que ela patrolaria os demais escolhidos do Big Brother.
Fica aqui a sugestão, já que o reality show está composto de pessoas desqualificadas, capazes de sentirem ciúme de um animal, o melhor a fazer é desclassificar todo mundo e dar o prêmio para a Mole. Certas regras teriam de ser modificadas no meio do jogo, mas o Sílvio Santos já criou jurisprudência para isso na Casa dos Artistas. O Big Brother finalmente deslancharia e meiga cadelinha teria direito a lançar livros de auto-ajuda, participar de programas de entrevistas e, quem sabe, ter um filme baseado na história da sua vida: Mole, uma vencedora.