Diário do Fim do Mundo

22/11/2001 - Diplomacia da minoria

Pense bem. Você conhece algum diplomata famoso? Alguém da sua rua, do seu bairro, da sua turma chegou a ser um embaixador? Não. Pois é. O corpo diplomático de um país serve para quem curte participar de festas em países distantes. Basta dar um exemplo. O poeta Vinícius de Moraes foi um diplomata do Brasil. Ele mesmo que dizia que o whisky era o cachorro engarrafado. Em sua carreira na função, mais bebeu do que realizou acordos fundamentais para o futuro do mundo livre.

E este é o grande problema do momento no Afeganistão. O regime Talibã já era. Os focos de resistência, se ainda existem, serão patrolados mais cedo ou mais tarde. Assim que isto acontecer alguém tem de tomar o poder no país como é de praxe. Neste ponto é que as coisas complicam. Um governo de coalizão tem tanta possibilidade de dar certo como o Rubinho Barrichello ser campeão do mundo de Fórmula 1.

A Aliança do Norte já avisou que não quer saber de governar junto com outros. Por exemplo, os patanes, uma das muitas etnias do Afeganistão, há pouco tempo colaboravam solertemente com os Talibãs. Por outro lado, os patanes não querem saber de reconhecer um governo que não seja encabeçado por um deles. Para este grupo é uma ofensa que Cabul não seja governada por seus pares. Apesar de bem-armados, nenhuma força significativa patane está apoiando a Aliança.

Não deixa de ser uma atitude lógica. Pois, a Aliança do Norte não costuma deixar prisioneiros por onde passa e tem o desagradável hábito de dizimar quem lhe critica ou oferece oposição. De 1992 a 1996, este pessoal simpático arrasou Cabul e matou mais de 50.000 habitantes. Coisa fina. Aliás, a guerra no Afeganistão continuou até 12 anos após a retirada das tropas soviéticas. Chegou um momento que ninguém mais sabia por que estava lutando.

Correndo por fora ainda existem os usbeques (10% da população) e os tajiques (25% da população). Todos se odiando claramente entre si. Não perca as contas, ainda existe mais um problema para os diplomatas resolverem ,os hazaras (12% da população) são xiitas, racialmente mongóis, descendentes das tribos de Gengis Khan. Inclusive, os hazaras foram duramente perseguidos durante o regime Talibã. Claro que perdão não é o forte desta gente. Os hazaras são tradicionais aliados do Irã, com quem compartilham o credo xiita e língua similar.

No Afeganistão deve haver uma diplomacia da minoria. São várias pequenas etnias que vivem brigando entre si há décadas. Nenhuma delas parece ter força suficiente para exterminar completamente as demais. Então são obrigadas a conviverem juntas. Mais ou menos o que acontece na Casa dos Artistas. Por isso, a esperança do mundo livre é este pessoal acostumado a canapés e whisky de graça. Os diplomatas vão ter de botar toda a sua lábia para funcionar. Se fracassarem podem ser condenados a passarem 45 dias na companhia do Alexandre Frota e do Supla. Só para verem se aprendem alguma coisa...


Da equipe de articulistas



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