Diário do Fim do Mundo

12/11/2001 - Trocando seis por meia dúzia

Não precisa ser um gênio para saber que no Afeganistão a situação é simples. Se ficar a Aliança do Norte pega, se correr o Talibã come. Na verdade, o novo governo que se anuncia não é o que se poderia chamar de gente simpática. Em tese, o mundo vai assistir a uma troca de seis por meia dúzia. Basta notar os massacres perpetrados pelos libertadores do antigo regime.

A Aliança do Norte, que provavelmente leu A Arte da Guerra de Sun Tzu, sabe que fundamentalista bom é fundamentalista morto. Não é devido ao fato de possuírem atualmente o controle de 85% do país, que a paz está garantida. Longe disso. Aliás, a Aliança quer criar uma espécie de Tribunal de Guerra para condenar os membros do Talibã. Na região, isto significa fuzilamentos à vista. Um espétáculo que os Estados Unidos fazem questão de esconder do resto do mundo.

Curiosamente, a ONU deseja que o Afeganistão seja comandado no futuro por uma coalizão de etnias. Um Conselho Nacional lideraria o país depois da Guerra durante dois anos. Como lição de casa o governo se comprometeria a criar uma constituição. Fica fácil perceber o problema. É muita estrela para pouca constelação. Vai ser uma espécie de Casa dos Artistas com direito a assassinatos e destruição em massa.

O embaixador da Aliança do Norte em Londres, Wali Massoud, irmão de Ahmed Shah Massoud, que morreu assassinado por agentes da al Qaeda nas coincidemente às vésperas dos atentados nos EUA, já declarou qual vai ser a composição do governo transitório. Ele terá terá 120 representantes: 50 da Aliança do Norte, outros 50 pertencentes ao ex-rei Zahir Shah e os outros 20 saídos de organizações civis e entidades culturais.

Difícil vai ser a ONU morder a isca. Isso sem falar na pressão dos países aliados dos Estados Unidos, que acreditam que vão transformar séculos de ódios gratuitos em uma faceira democracia. O país mais pobre do mundo ainda tem muito a oferecer em termos de violações dos direitos humanos. O presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, sabe que se o Talibã não for varrido do planeta a confusão vai continuar. Como fazer isso sem ofender os muçulmanos é o xeque-mate da Guerra.

Pervez Musharraf, que sabe que mora em uma vizinhança ruim, mas não pretente mudar de país, foi honesto ao dizer que hoje o mundo tem medo do Talibã. Mais ainda: o pessoal de Osama Bin Laden ainda tem a desagradável capacidade de se multiplicar como um câncer. Inclusive depois de anos de dominação estrangeira é lógico que que o povo do Afeganistão odeie qualquer tipo de estrangeiro, o que facilitaria o discurso fudamentalista mais radical. Enfim, é como diria um ceguinho esperançoso: veremos.


Da equipe de articulistas



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